Pollyana Gama, vereadora pelo PPS em Taubaté
No período quaresmal deste ano, considerado pela igreja católica o tempo de conversão, a CNBB promove a Campanha da Fraternidade com um tema relevante: Fraternidade e Saúde Pública. O lema é “Que a Saúde se Difunda Sobre a Terra”.
A OMS (Organização Mundial da Saúde) define Saúde como um “estado de completo bem-estar”. Diante dessa definição, recordo-me das palavras do professor doutor Miguel Arroyo “chamando-nos” a atenção para o fato da sociedade ao pensar na saúde, por exemplo, dos filhos, pensa imediatamente no médico.
Embora essa observação tenha ocorrido num outro contexto, considerei ser pertinente apresentá-la aqui para colaborar com a nossa reflexão, pois, de certa forma, nos conduz a observar e compreender o quanto reduzimos o equacionamento da questão a somente uma vertente.
Mais um exemplo? Por que não três? Em Taubaté inaugurou-se o novo PSI (Pronto Socorro Infantil) anexo ao Hospital Universitário (HU), atendendo orientação do Sistema Único de Saúde (SUS) quanto à retaguarda para internações emergenciais. Resolvido? Gostaríamos que sim, mas a realidade revela problemas como o loteamento do HU que submete o paciente a uma fila de espera e o retrocesso na capacidade de leitos (de 18 para 4) que só será percebido pela população, segundo médicos especialistas, a partir do 2º trimestre de 2012, quando aumenta, por exemplo, em 30% os quadros virais respiratórios. Isso sem falar na dificuldade de acesso localizado numa das avenidas mais movimentadas e congestionadas da cidade. Ação reducionista.
No âmbito nacional, o Ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ao receber a crítica do Bispo Dom Leonardo Steiner quanto a exclusão de R$ 5 bi da pasta, por parte do Governo Federal, argumentou o fato de que nenhum dos programas deixará de ser executado. Estou certa de que com R$ 5 bi a mais poderíamos otimizar tais projetos como também garantir investimentos, por exemplo, na humanização do setor e valorização de seus profissionais.
Finalizando os exemplos, internacionalmente, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman, em uma de suas 44 cartas do “Mundo Líquido Moderno” aponta que “descoberta notável e preocupante é que o acréscimo dos níveis de investimento na área da saúde quase não tem impacto na expectativa de vida média, mas o crescimento do nível de desigualdade tem forte impacto, e extremamente negativo”. Para ilustrar sua obra, cita o Japão com o mínimo de programa de previdência social e a Suécia com significativo estado de bem-estar social. Embora administrados diferentemente “o que os une é a distribuição relativamente equitativa da renda”. Ambos países com menos desigualdades sociais.
Não existe mágica, muito menos uma receita milagrosa, para sanar imediatamente os problemas da saúde que crescem a cada dia fazendo com que a população, em especial a mais humilde, não receba o tratamento digno e adequado.
A distância entre teorizar a saúde pública e praticar o que é garantido em um estado de direito é longa e exige muito além de vontade política. Exige saber como fazer, isto é, aliar razão, sensibilidade e a sociedade ao planejar a saúde pública, de modo que diante do diagnóstico estabeleçam-se prioridades, metas, ações “curativas” e tão ou mais importantes preventivas de modo integrado.
O desafio da difusão da saúde é de todos e sinto que conscientizar a sociedade a respeito é um dos principais objetivos da Campanha da Fraternidade 2012. Uma pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas) de 2011, revela que 68,43% dos brasileiros se dizem católicos. Se unirmos essa força já teremos possibilidades de fazer valer nossos anseios. Cobrar responsabilidade e compromisso dos governantes será uma das tarefas a serem exercidas. Contudo, devido à magnitude do tema proposto acredito que os outros 31,57% dos brasileiros restantes também abraçarão a causa.
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