quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Como preparar os filhos para a sucessão? Um dilema dos gestores das empresas familiares porque não existe regra e poucos reconhecem essa necessidade enquanto ainda tem controle sobre a situação.
O problema se dá na origem de muitas empresas que são fundadas de forma intuitiva e por necessidade, visto como saída para o desemprego.
Ser empresário no Brasil é ainda uma questão de oportunismo, sorte e perseverança. Até mesmo por questões históricas que formaram uma idéia coletiva de que são exploradores dos empregados, sem alma, capitalistas, enfim uma série de atributos preconceituosos, criando uma barreira para o reconhecimento por parte da sociedade de sua importância para a geração de riqueza. Existe uma verdadeira “venda” nos olhos das pessoas impedindo esse reconhecimento.
Devido a tudo isso muitos empresário afastam os filhos de seus negócios. Não porque querem, mas pela forma como vivem, trabalhando até quinze horas por dia, sem tempo para férias e sem acompanhar as atividades familiares.
Procurando muitas vezes saídas para a sobrevivência da empresa usa como justificativa a necessidade do esforço para o bem da família. O que por um lado é um exemplo de dedicação, mas por outro, forma ao longo do tempo uma visão equivocada dos filhos em relação à opção de ser patrão ao invés de empregado.
Filhos que bem formados, críticos, providos de bens e riqueza têm dificuldade de entender os fatos. Protegidos das amarguras do dia a dia recebem os benefícios que o dinheiro pode comprar e vivem a ilusão da vida fácil.
Sem dar conta do quanto terão que se esforçar para alcançar sua própria independência, são compelidos a enxergar em momentos pontuais vividos com outras realidades a possibilidade de auto-realização - O pai de um amigo - aparentemente sem problemas, um tio - sempre viajando, amigo do amigo - um profissional bem sucedido.
Negando a própria origem decidem por carreiras profissionais que nada tem a ver com os negócios que deram a ele a possibilidade de viver bem.
Gastam anos de estudos, muitos reais, poucas experiências e muitas amarguras e desilusões. Não porque a profissão não seja boa, mas porque têm sua velocidade de amadurecimento e requerem muito esforço para vencer a concorrência acirrada pelos melhores cargos e salários.
O tempo e a perda sentida no padrão de vida são incompatíveis com as expectativas, gerando desconforto e levando os mesmos de volta para o convívio familiar mais seguro e confortável.
Um profissional bem formado, porém, sem as noções mínimas de negócios. Foi formado para ser empregado e não patrão. Passa agora – sem vestibular – para outro estágio o de aprendiz de empresário.
O problema se dá quando ego nas alturas e a autoconfiança minimizam as dificuldades, criando um choque de gerações que transformam a empresa em um campo de batalhas ideológicas, culminando com o afastamento dos pais e com a falência precoce de muitas empresas.
Não há regras e nem certeza de que isso irá ocorrer, mas é preciso reconhecer a possibilidade para evitar o dilema: “pai rico, filho nobre e neto pobre”.

Arcione Viagi - empresário e professor da Unitau

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