quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Será que estamos evoluindo?

Em nosso último artigo tratamos do tema reforma universitária e esse tema também pode ser utilizado para avaliar quanto estamos evoluindo em relação aos países considerados desenvolvidos. Começou uma rotina que todos os pais das classes mais privilegiadas vivem quando seus filhos chegam ao momento de escolher a profissão e a faculdade que irá cursar. Depois de 30 anos estou vivendo a emoção de quando sentei atrás de uma carteira escolar para por a prova meus conhecimentos e lutar contra outros milhares de estudantes tentando uma vaga em uma faculdade de renome.
O pior é que hoje eu efetivamente só posso torcer pelo sucesso de meus filhos e refletir sobre o que mudou no decorrer desse tempo.
Será que estamos muito diferentes? Claro que é sim!
Mudamos muito, quebramos paradigmas e também a hegemonia de algumas poucas instituições que eram sinônimos de excelência, algumas, até mesmo sem ser. A tradição e o corporativismo que garantiam a empregabilidade para aqueles que faziam determinada faculdades deu lugar para uma concorrência mais efetiva no mercado e o efeito escola de primeira linha diminuiu um pouco.
O “provão” permitiu que algumas instituições saíssem do anonimato e passassem a ser reconhecidas pela excelência. E outras tiveram alterado seu “status”. Pena que algumas instituições que estavam teoricamente por cima não quiseram expor suas deficiências e boicotaram o método de avaliação e com sua força política conseguiram mudar para algo menos intenso como o ENADE.
De qualquer forma mudamos, mas ainda estamos longe de conseguir um equilíbrio nas oportunidades. Se antes tínhamos menos vagas, por outro lado poucos tinham a formação mínima necessária para concorrer por elas.
Devido à maior procura por vagas, aumentou também a oferta, ou seja, a lei de mercado agiu para alcançar o equilíbrio, porém a pirâmide social ainda é muito desigual e por isso o mercado tende a responder com produtos também desiguais. Temos hoje muito mais opções de escolha para fazer um curso superior, porém, os critérios de escolha ainda são definidos por dois aspectos:
1) Capacidade de pagar pela formação básica para conseguir vaga em uma faculdade pública mantida pelos impostos de todos. Investimento da ordem de R$ 60.000,00 a R$ 150.000,00 no ensino regular complementado pelo curso pré-vestibular.
2) Capacidade de passar no vestibular e ainda pagar por cursos em instituições privadas de renome. Investimentos podem variar de R$ 100.000,00 (curso de quatro anos) a R$ 400.000,00 (cursos de seis anos).
Em vista dessa realidade acredito que ainda falta muito para mudarmos. No Brasil, enfrentamos alguns grandes desafios. A indústria do curso pré-vestibular que movimenta milhões e a dificuldade de acabar com o vestibular enquanto as escolas públicas forem tão caras para a sociedade e tão ruins em termos de resultados.
Enquanto as escolas privadas forem mais eficientes no uso do dinheiro investido, seremos diferenciados pela capacidade de pagar para dar aos nossos filhos as melhores oportunidades, intensificando as diferenças sociais pela diferença de oportunidade que podemos comprar.
Estaremos evoluídos quando for possível pontuar a vida acadêmica dos candidatos às vagas e de forma mais democrática, escolher os candidatos para as vagas disponíveis. Modelo que não seria novidade dado que já existe há muito tempo nos países com maior igualdade social. Enquanto isso não acontece ficaremos sofrendo com o vestibular e pagando para preparar nossos filhos para ele ao invés de pensarmos no que eles realmente aprenderam.

Arcine Viagi - empresário e professor da Unitau

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